O que os homens e mulheres contemporâneos realmente precisam é de beleza, caminho para encontrar Deus, assegurou Bento XVI no esperado encontro com os artistas do mundo inteiro, realizado ontem na Capela Sistina, que contou com a presença de aproximadamente 260 artistas renomados internacionalmente: cantores, músicos, escritores, pintores, arquitetos, atores, entre outros.
Trata-se de uma iniciativa organizada pelo arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, que não só buscava recordar os 10 anos da carta de João Paulo II aos artistas, mas sobretudo superar o divórcio entre a Igreja e o mundo artístico, constatado por Paulo VI em um encontro como este, há 45 anos.
Em meio ao ambiente de pessimismo que se respira por causa da crise econômica e social, o Papa perguntou aos artistas: “O que pode voltar a dar entusiasmo e confiança, o que pode animar a alma humana a encontrar o caminho, a elevar o olhar ao horizonte, a sonhar com uma vida digna da sua vocação? Não é acaso a beleza?”.
“A experiência do belo, do autenticamente belo, do que não é efêmero nem superficial – respondeu o Papa –, não é acessório ou algo secundário na busca do sentido e da felicidade, porque essa experiência não afasta da realidade, e sim leva a enfrentar totalmente a vida cotidiana para libertá-la da escuridão e transfigurá-la, para torná-la luminosa, bela.”
A beleza, segundo o Papa, pode provocar no ser humano “uma saudável ‘sacudida’ que o leve a sair de si mesmo, que o arranque da resignação, da comodidade do cotidiano; que o faça também sofrer, como um dardo que o fere, mas que o ‘desperta’, abrindo-lhe novamente os olhos do coração e da mente, dando-lhe asas, empurrando-o para o alto”.
Pois bem, continuou constatando o bispo de Roma, “com muita frequência, no entanto, a beleza da que se faz propaganda é ilusória e falaz, superficial e cega até o aturdimento e, ao invés de fazer que os homens saiam de si mesmos e abrir horizontes de verdadeira liberdade, empurrando-os para o alto, fecha-os em si mesmos e os faz ser ainda mais escravos, tirando-lhes a esperança e a alegria”.
Pelo contrário, indicou, a beleza “pode converter-se em um caminho para o transcendente, para o mistério último, para Deus”.
Por este motivo, apresentou o “caminho da beleza” como “um percorrido artístico, estético, e um itinerário de fé, de busca teológica”.
Por isso, seu discurso se converteu em uma constatação da necessidade que os artistas têm de Deus e da necessidade que a Igreja tem da arte para evangelizar.
Antes de despedir-se, o Papa fez um convite aos artistas: “Não tenhais medo de relacionar-vos com a fonte primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história, rumo à Beleza infinita!”.
“A fé não elimina nada da vossa criatividade, da vossa arte; mais ainda, ela vos exalta e vos nutre, animando-vos a atravessar o limiar e a contemplar, com olhos fascinados e comovidos, a meta última e definitiva, o sol sem crepúsculo que ilumina e torna belo o presente”, concluiu.
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