"Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos, uma luz em meu caminho” (Sl 118/119, 105).
Desde os santos Patriarcas, a humanidade tenta se conduzir pela Palavra do Senhor. Com segurança, podemos distinguir duas formas de conduzir-se por ela. Uma, geral, que serve para todos os momentos de nossa vida. A outra, particular, que se aplica a determinadas situações.
Para ser bem conduzido pela Palavra de Deus, de forma geral e em todas as situações, necessitamos conhecê-la. Conhecendo-a poderemos experimentar o que o salmista diz: “Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios. Feliz o homem a quem ensinais, Senhor, e instruís em vossa lei.” (Sl 1, 1; 93, 12;). Para conhecê-la é necessário ler a Bíblia, estudá-la e meditar no que se leu ou estudou. Assim nossa mentalidade sairá da forma do mundo e começaremos a pensar como Jesus. Ele tinha a mente impregnada da Palavra do Pai, por isso, mesmo nos momentos de dificuldade, conseguia conduzir-se por ela. Foi assim que derrotou Satanás e venceu suas tentações no deserto, no Horto das Oliveiras e na cruz. Com efeito, no deserto, ante as tentativas de sedução do demônio, Jesus respondeu-lhe, usando o conhecimento que tinha da Palavra de Deus, dizendo: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Dt 8, 3); “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Dt 6, 16); “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás” (Dt 6, 13).
Caso Jesus não conhecesse a Santa Lei poderia ter iniciado um combate sem fim com o Maligno. Esse parece ser o caso de muitos filhos de Deus nos tempos de hoje. Quando são interpelados pelo mundo, ou quando são assediados pela tentação, não tem nas mãos a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus, para se defender. Mas podemos mudar isso. Depende de nós, conhecer e praticar a Palavra de Deus. Comecemos, então, hoje mesmo, nossos estudos e meditações da Bíblia. Em breve seremos bons conhecedores da Lei do Senhor. Se não temos muito tempo, comecemos de pouco. De passo em passo se vai longe. E lembre-se: “Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite” (Sl 1, 2).
A outra forma de conduzir-se pela Palavra de Deus, que nomeamos aqui de ‘forma particular’, não é uma fórmula nova, ela remonta aos tempos bíblicos. Naquele tempo era costume ouvir-se uma profecia para orientar-se. Entretanto, na ausência dos profetas, o povo tomava o livro da Lei nas mãos e abria-o, crendo que assim o Senhor lhes mandaria uma palavra semelhante a uma profecia. Nos livros de Macabeus (1 Mc 3, 48; 2 Mc 8, 23) encontramos exemplos dessa forma de condução pela santa Palavra. Entretanto, nesta modalidade de condução pela Palavra, devemos ter os mesmos cuidados, no que toca ao discernimento, que se recomendam para as profecias recebidas mediante o carisma da profecia. Este alerta é muito importante para não corrermos o risco de atribuir a Deus o que não vem dele, bem como para não tomarmos alguma direção errada.
Conduzir-se pela Palavra de forma particular não é estranho ao cristianismo. Em suas confissões, Santo Agostinho noticia que Santo Antão, ouvindo ao acaso uma leitura do Evangelho, sentiu-se pessoalmente interpelado pelo trecho que diz: “Vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-me!” (Mt 19, 21). Santo Antão tomou este trecho como um oráculo e converteu-se. O próprio Agostinho decidiu-se definitivamente por Deus por meio de um fato semelhante. Vejamos como isso ocorreu, nas palavras do Santo:
“Levantei-me persuadindo-me que Deus só me mandava uma coisa: abrir o códice [abrir o códice: refere-se ao livro das Epístolas de São Paulo, como explica depois] e ler o primeiro capítulo que encontrasse. (...) Abalado, voltei aonde Alípio estava sentado, pois eu tinha aí colocado o livro das Epístolas dos Apóstolos quando de lá me levantei. Agarrei-o, abri-o e li em silêncio o primeiro capítulo em que pus os olhos: ‘Não caminheis em glutonarias e embriaguez, nem em desonestidades e dissoluções, nem em contendas e rixas; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis a satisfação da carne com seus apetites.’
Não quis ler mais, nem era necessário. Apenas acabei de ler estas frases, penetrou-me no coração uma espécie de luz serena, e todas as trevas da dúvida fugiram. Então, marcando a passagem com o dedo ou com outro sinal qualquer, fechei o livro.” (Confissões, L. VIII,12).
Modestamente, posso testemunhar que recebi do Senhor uma direção para minha vida profissional. Este fato ocorreu assim: Em 1988, quando ainda não havia decorrido um ano após eu ter concluído a faculdade, inscrevi-me em determinado concurso. Naquele tempo, eu trabalhava na Receita Federal como Técnico. Após a inscrição senti-me interiormente muito incomodado. Confuso, fui ao Santíssimo ouvir o Senhor. Quando estava orando pedi a Jesus uma orientação. Durante aquela oração, vieram-me ao pensamento as seguintes palavras: “Abra Lucas 19, 1”. Fiquei meio frustrado e pensei: “Não me lembro de Lucas 19, 1, mas certamente não tem nada a ver com minha vida profissional.” Mas, pelo sim, pelo não, abri Lucas 19, 1 e li até o segundo versículo, e, para minha surpresa, lá estava escrito: “Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade. Havia aí um homem muito rico chamado Zaqueu, chefe dos recebedores de impostos.” “Chefe de cobradores de impostos”, repeti no meu pensamento, e retruquei. “Esta palavra não é para mim, pois não desejo ser auditor por nada deste mundo. Certamente o Senhor só está dizendo para eu não fazer o concurso para o qual me escrevi. É, deve ser isso.” Com estes pensamentos saí da capela e fui para casa.
Querem saber o que aconteceu em minha vida profissional? Saí da Receita Federal, e depois de perambular por algumas profissões e alguns concursos, sem obter sucesso, resolvi fazer um concurso para Auditoria-Fiscal do Trabalho. Fui aprovado na primeira tentativa. Tomei posse e hoje trabalho feliz. Como o profeta Jonas, tentei fugir da direção do Senhor, mas ele, mais forte e mais sábio do que eu, não me deixou desviar dos seus desígnios. A minha profissão encaixa-se perfeitamente em meu trabalho missionário e é fonte de sustento de minha família.
Assim, irmãos e irmãs, podemos concluir que Deus deseja nos conduzir por meio de suas palavras. Tudo o que temos de fazer é conhecê-la e crer nela, para começar. Em seguida precisamos aprender a discernir a voz de Deus em nosso coração e acolhê-la. Os santos, desde os tempos dos Apóstolos, já faziam isso. Façamos nós também, afinal “a Palavra de Deus, uma vez proferida, não volta para ele sem ter cumprido na terra sua missão, sem ter produzido seus frutos” (cf. Is 55, 10-11).
“Pelos caminhos retos Ele me leva, por amor do Seu nome” (Sl 22/23, 3).
Dercides Pires da SilvaFonte: http://www.rccbrasil.org.br/noticia.php?noticia=5630
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