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20 de novembro de 2009

Identidade: a nossa esperança não se engana



De uma determinada perspectiva, podemos dizer que a Renovação Carismática está passando de uma fase apologética (em que busca, acentuadamente, justificar sua pertinência) para assumir, de fato, uma fase pronunciadamente profética, em que busca deixar clara a sua natureza, a sua identidade, a sua vocação e a sua missão.
Sob outra perspectiva, deparamo-nos, por todo o mundo, com duas situações aparentemente contraditórias entre si: um crescente interesse pelo Movimento, com uma exuberante expressividade carismática em certas realidades e – por outro lado -, situações onde o que predomina é um inegável arrefecimento naquele entusiasmo que usualmente caracteriza o Movimento quando de sua manifestação.
Uma maneira de julgarmos esse quadro seria dizermos que o Movimento perdeu o seu entusiasmo primitivo; que o volume excessivo de organização “engessou” o operar do Espírito, que a estrutura está institucionalizando a graça da Renovação, que o “excesso de formação” abafou a inspiração, e rotiniza a atividade carismática...
É preciso reconhecer e considerar, entretanto, que o entusiasmo dos carismáticos não procede de“uma ideia”, simplesmente, pela qual estivemos, um dia, persuadidos, e agora constatamos tratar-se de uma ilusão. Não! O nosso entusiasmo nasce de uma experiência de uma realidade, na qual cremos firmemente, porque vimos e ouvimos, e sentimos em nossas vidas o poder renovador do “seu amor que foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5), e nos abriu novos horizontes e possibilidades de vivência de fé como nunca havíamos imaginado. Estamos convencidos, por experiência interpretada à luz das promessas de Cristo e da doutrina paulina, que o próprio Espírito Santo é a fonte de energia e da vitalidade da Renovação Carismática, que, desse modo, deve ter um impacto não comensurável ao mesmo nível de outros programas de reforma feitos com base em elementos e critérios simplesmente humanos. A Renovação Carismática é, antes de mais nada, uma estratégia de Deus!
 
A teologia da graça possui uma dinâmica que supõe aquilo que se chama de 
regime de começo (ou “de iniciação”), que é uma realidade, uma etapa da vida da graça que não nos é concedida para ser perpetuada indefinidamente, mas que é para ser substituída  por um outro regime, diferente, mais apropriado para aprofundar e fortalecer a vida no Espírito. Isso se apresenta na vida de indivíduos, de comunidades, e mesmo de um Movimento...
Esta espécie de graça – esse regime de começo – nunca dura por muito tempo. E não há o que fazermos para reter esse estado de graça. Enquanto perdura, serve para nos desinstalar, para nos renovar, mudar nossa maneira antiga de ver a vida, concedendo-nos uma nova visão, reorientando nosso comportamento e apontando-nos um novo rumo... Uma conversão, por assim dizer!
Deus, por essa graça inicial, assim como que nos convence de que, sendo conduzidos por seu Espírito, deste modo tão singular, experimentamos uma nova vida, restaurados, curados e libertados das “amarras” do homem velho....
Antes, porém, que isso possa ser plena e definitivamente realizado, devemos corresponder à graça com um esforço pessoal, com uma perseverança fiel nas provações e nos sacrifícios.
É neste ponto crítico que muitas pessoas, oprimidas pelo desânimo, abandonam a luta pelo crescimento na vida espiritual, exatamente quando poderia começar para elas um progresso verdadeiro da vida no Espírito...
chave, portanto, é entender que o desaparecimento daquele fervor inicial não deve ser causa de desânimo, mas ser encarado com um desafio que poderá nos levar a crescer em maturidade. Perceber a planificação humana, a organização, não como fechamento à inspiração divina, mas como a resposta humana, como a cooperação que o Senhor espera daqueles que são tocados por sua graça, na  efusão do Espírito.
Por vezes, somos inclinados a medir a qualidade da vida carismática pela abundância de manifestações que a acompanham. Supomos que o crescimento espiritual está em proporção com a profusão de milagres e coisas extraordinárias. Desejamos viver num constante estado de contato íntimo com Deus, que nos fala diretamente e nos diz com certeza o que Ele quer que façamos. Esperamos viver, enfim, numa perene alegria, fora da sombra da cruz, da provação, do deserto... da noite escura da fé! A oração no Espírito é identificada, em nossas mentes, com a expressão livre e externa da emoção religiosa através dos cantos efusivos, das palmas, das orações em línguas, e damos pouco valor ao silêncio, à contemplação, à vida interior...
“Evitar o perigo de promover, sem o desejar, uma experiência divina exclusivamente a nível emocional, uma busca exagerada do extraordinário e um egoísmo intimista. A fé esmorece quando se limita ao costume, ao hábito, à experiência meramente emotiva. Ela deve ser cultivada, ajudada a crescer, tanto a nível pessoal como comunitário”, já nos alertava João Paulo II.
Privando-nos, gradualmente, de algumas bênçãos mais sensíveis, Deus nos educa progressiva e suavemente para aquilo que é, de fato, essencial na vida no Espírito: O amor, que é a essência da vida espiritual (e não a alegria!); a , que é seu fundamento (e não a experiência!), a humildade, que é o escudo que a protege (e não o poder espiritual!), e a perseverança nas provações de toda sorte, que é o teste que a prova, aprofunda e confirma....
Os carismas, o poder carismático, a alegria, a harmonia e a experiência sensível tem, de fato, um valor real em alimentar esta vida no Espírito... Mas quando estas coisas são procuradas por si mesmas, ou consideradas como valores dominantes, deformam e inibem a verdadeira vida espiritual...
Renovação Carismática é um ato soberano de Deus entre os cristãos, que começa com uma experiência, um evento chamado “batismo no Espírito Santo”. E o fruto central dessa experiência é a renovação, a restauração da soberania de Jesus Cristo na vida das pessoas, e através delas na Igreja, nas igrejas, e na sociedade. É um ato soberano de Deus – não alguma coisa que eu possuo ou controlo! – através do qual somos chamados a render nossas vidas a Ele, permitindo que Ele assuma o controle total de nossa existência, e se utilize delas com o poder que nos é  dado, mas que pertence, de fato, a Ele... Ele determina como as coisas devem ser, como e quando acontecer, e onde devem ocorrer....
É hora de assumirmos a graça de Pentecostes por inteiro – até o martírio, se preciso for!
Hora de repouso no Espírito, mas também de combatividade profética, de uma militância mística que, ocupando-se das coisas do mundo, declara a supremacia valorativa das coisas divinas, do primado da graça, da cultura de Pentecostes... “a única que pode fecundar no mundo a civilização do amor!” (João Paulo II).
Reinaldo Beserra dos Reis

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