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17 de dezembro de 2009

Cuidado para que Deus não se torne a nossa vaidade


A igreja precisa descobrir uma forma chegar até o coração do artista. Não pela mesma via, o mesmo jeito que se chega ao coração das pessoas. Você tem um jeito de ser, precisa ser tratado na sua diferença. Pois, se não cuidamos do jeito que somos, nos transformamos em monstros. O romântico corre o risco de ver a vida passar sem viver, perdendo o senso da realidade em ilusões.

A inveja é o grande risco da primeira desintegração do nosso coração de artista, em querer o que não nos pertence. Uma das coisas que me impressiona em Jesus é a sua capacidade de fazer com que os outros tomem posse do que realmente é. Pare de se imaginar e se projetar em realidades que não são concretas em sua vida, pois isso é o mesmo que não viver. 

O conceito de pessoa dentro da filosofia e da teologia é estabelecida dentro de dois polos: 
1º Ser pessoa é se dispor de si.
2º É se dispor para o outro. 

Pois, se você não é dono daquilo que é seu, como você irá oferecer ao outro? Conversão é processo de tomada de posse daquilo que se é. Deus não pode trabalhar a partir do que não sou ou finjo ser, ele não trabalha com fantoches. 

Ser pessoa é antes de qualquer coisa a disposição, tendo diante dos limites, qualidades, fazer vale a pena. Não pode haver ser humano realizado, feliz e cristão se não existe a busca naquilo que se é. A sua conversão passará por essa compreensão. 

Graças de Deus não é uma realidade que esta acima de nós, mas é um movimento que nos faz refletir naquilo que somos, para que eu descubra quem sou eu. 

A nossa natureza artística é naturalmente artificial. Se por um lado somos dotados de profundidade, por outro lado caímos facilmente em artifícios. Muitas vezes porque nossas vidas se ilumina com algumas novidades. A nossa alma é estética, temos uma facilidade muito grande para se encantar pelo estético, não é defeito, é diferença que precisa ser domada.

A nossa instabilidade afetiva é tão concreta que se não nos projetamos para aquilo que somos, nos tornamos prostitutos de luxo.

Corremos atrás de qualquer artificio que passa, dando respostas rápidas. Não sabendo demorar, nos decepcionamos e cavamos dentro de nós uma ausência de disposição de si. 

Colocando a vida na mão do outro, deixando que este se decida por você. Assim, você não tem condições para se dispor pelo outro, porque se deixou de dispor de si. É por isso que o compromisso para os artistas são difíceis de ser levados adiante.

Cuidado para que Deus não se torne a nossa vaidade. O destino desta vaidade é você que escolhe, você a domina ou ela te domina. A nossa vaidade se multiplica de várias formas, não invente um personagem. 

Descubra onde está o seu maior defeito que você descobrirá onde está a sua santidade. 

Uma coisa é saber o que somos, outra coisa é saber o que fazemos com o que somos e o pior é o que deixamos com que outro façam conosco. Não tenho direito de me deixar transformar na imaginação do outro.

Se você assume o compromisso de saber o que Deus fez e faz em sua vida. Você começa a trabalhar na parceria com ele, pois o que Deus fez ainda não está pronto. Ele lhe dá as sementes, o plantio é seu. Deus não vem plantar a sua floresta. 

Se você quiser firmar sem medo na verdade antropológica essa é a verdade “da raiz que me fez fruto, eu desfruto a Divina condição”. 

O homem é o “tu” de Deus, ele acontece plenamente no coração quando se dispõe a ser o que Deus é. Você é Deus na vida da sua namorada, de seu filho, não é assumir uma divindade a parte, a nossa divindade só acontece na participação, na comunhão naquilo que é.

Se você sai da mira de tudo o que é sagrado, você não sabe mais quem é você. Isso é viver a identificação com Deus. É viver a arte de ser humano e divino ao mesmo tempo, não são realidades que se opõe mas, parceria de realidades que se dão juntas.

Viva uma história de amor com você mesmo e não permita que o outro lhe sequestre. Apaixone- se por você! O amor ao outro só é possível no momento em que nos amamos.

Padre Fábio de Melo

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