São
três os valores inegociáveis segundo Bento XVI – em discurso ao Partido
Popular Europeu no ano de 2006: vida, família monogâmica e educação dos
filhos.
Valores
estes que não podem “seguir a arte da política e da negociação”, –
afirma Pe. Paulo Ricardo – em uma conversa organizada por ZENIT entre o
Prof. Paulo Fernando Melo, vice-presidente Pró-vida e pró-família e
membro da comissão de bioética da arquidiocese de Brasília, e o Pe.
Paulo Ricardo Azevedo Junior, do clero da arquidiocese de Cuiabá, e
famoso pregador brasileiro.
Oferecemos aos nossos leitores a segunda parte dessa reflexão. Para ler a primeira parte, clique aqui
Prof. Paulo Fernando: diante desse quadro da cultura da morte, o que, efetivamente, uma pessoa de bem, um cidadão católico, pode fazer? Será que estaríamos na beira do abismo e realmente não tem mais o que se fazer?
Pe. Paulo Ricardo: Devemos lembrar duas coisas importantes. Primeiro, nós não somos uma minoria insignificante.
Nós somos uma maioria. Mas infelizmente somos uma maioria emudecida
porque a classe falante está toda contaminada com a mentalidade
anticristã e uma maioria mal articulada, não organizada.
Nós então, precisamos, em primeiro lugar, nos conscientizar. Depois,
uma vez conscientizados daquilo que é a situação que nós vivemos, estar
dispostos a nos articular e trabalhar concretamente para
este tipo de política favorável à vida. Nós precisamos crer no
seguinte: a ação de Deus na história, é sempre uma ação em que, aquele
que era aparentemente somente um Davi, pequenino, que lutava contra um
Golias, termina alcançando a vitória. Então, existe, em nós, uma
consciência de nossa pequenez. Apesar de sermos muitos, nós sabemos que
qualquer vitória deve ser uma vitória de Deus. Mas, a vitória de Deus só acontece quando nós agimos.
Qualquer pessoa que trabalha nesse campo, na evangelização, no meio da
política e na ação social, e trabalha a favor das coisas de Deus, já
experimentou o fato de que as nossas pequenas ações, de pequenos Davis,
são potenciadas enormemente por Deus, de tal forma que embora sejam
poucos os cristãos e católicos conscientes no âmbito da política, as
nossas ações são agraciadas. Deus nos dá a graça. Por isso podemos
contar com ela. Podemos contar com o fato de que uma pequena pedrinha
pode causar uma grande avalanche, de que o pequeno Davi pode sempre
destruir o exército dos Filisteus.
Prof.
Paulo Fernando: o senhor falou que Deus nos pede a luta e não a
vitória, mesmo porque a vitória já é nossa, em Jesus. Agora, qual o
conselho que o senhor dá às pessoas que se sentem vocacionadas para
isso? Como o senhor falou, que sejam preparadas, que sejam
compromissadas, que tenham uma postura como pai de família, como patrão,
como empregado, como pessoa engajada na comunidade, na sua paróquia, na
sua igreja, na sua diocese; e por que muitas vezes, não há esse
estímulo para que as pessoas de bem possam ingressar também no mundo da
política?
Pe. Paulo Ricardo: O princípio da sabedoria é o temor de Deus,
diz a Sagrada Escritura. Nós temos que ter a plena consciência de que
não estamos nesse mundo para vivermos uma comodidade e um paraíso aqui
nessa terra. Nós estamos aqui para preparar o céu. Estamos aqui para
realizar a vontade de Deus que preparou para nós uma felicidade no céu.
Então, qualquer pessoa que entra nessa luta sem fé na salvação que nos é
dada por Deus e na esperança de alcançá-la, é uma pessoa que tem uma
grande probabilidade de perder a luta porque o inimigo conta com isso. O
inimigo – e nosso inimigo maior é Satanás, o demônio, e não as pessoas –
conta com o fato que nós, amedrontados, vivamos um cristianismo, mas um cristianismo burguês, acomodado,
onde sim faço a vontade de Deus, desde que isso não me custe muito;
desde que isso não tenha um preço. A partir do momento em que a
fidelidade a Deus começa a exigir um preço, as pessoas desistem.
Os
conselhos que posso dar bem concretamente aos cristãos leigos e aos
sacerdotes inclusive, é ter os olhos fixos em Deus, no céu, para não nos
deixarmos distrair pelas seduções do mundo, pela comodidade aqui desta
terra. É uma luta a vida do homem sobre a terra. Nós estamos aqui para
lutar. E sabemos que Deus irá vencer. Não há nenhuma dúvida de que Deus
vencerá. A única pergunta é: de que lado nós estaremos quando Deus
vencer? De que lado nós estaremos quando Ele proclamar a sua vitória.
Então, precisamos viver esse mundo com os olhos fixos no céu. Sabendo
que é essa a nossa missão. Estamos aqui na terra preparando o nosso céu.
Qualquer coisa que se distraia dessa realidade vai resultar numa
traição. Nós precisamos saber que um dia estaremos diante do trono da
graça, seremos julgados por Deus, e que precisamos ser fieis a Ele.
Prof.
Paulo Fernando: e agora, nas considerações finais, o senhor acha que
nós devemos rezar pela conversão desses abortistas? Quais são as nossas
intenções nas nossas orações nessa luta contra a cultura da morte?
Pe.
Paulo Ricardo: Veja, a realidade espiritual deve estar sempre ancorada
também na ação. As duas coisas devem caminhar juntas: rezar pela
conversão deles, rezar também pelas famílias, mulheres, crianças,
pessoas que estão envolvidas nos crimes de aborto, mas sobretudo
precisamos ter em mente o fato de que no Brasil estamos vivendo uma
situação de extrema urgência. Nós temos nesse momento, duas realidades
extremamente urgentes nesse país.
A primeira que é toda uma ação do executivo, onde
o ministério da saúde e a secretaria para a defesa dos direitos das
mulheres estão implantando uma série de procedimentos para facilitar o
aborto cometido através de medicamentos por mulheres, e estamos também diante de um projeto do código penal que, se
não legaliza o aborto de fato, pelo menos o legaliza na prática porque
atenua enormemente a penalidade do aborto e o torna uma daquelas
infrações de menor importância e portanto não passíveis de punição.
Essas duas realidades são verdadeiro golpe na democracia brasileira.
Nós brasileiros somos, na sua maioria, contrários à prática infame do
aborto e gostaríamos que isso continuasse assim. O valor da vida humana é
um direito inegociável, é algo que nós não podemos ceder. Essa
realidade deve ser defendida por nós católicos, antes de tudo na oração,
na nossa confiança em Deus e entrega à Nossa Senhora, mas também na
ação, onde nós estejamos dispostos a pagar o preço pela nossa fidelidade
a Deus.
Existe
um livro escrito por um autor protestante, chamado C S Lewis, “Cartas
de um diabo ao seu aprendiz”. Nesse livro o demônio mais velho ensina ao
mais novo como levar uma alma ao inferno. E diz assim: mantenha as
orações dele, ou seja, da pessoa que você quer levar ao inferno, muito
devotas e espirituais, fazendo com que, no entanto, ele não se preocupe
nunca com as doenças das pessoas que estão ao seu redor, das suas
necessidades concretas e com a ajuda que ele poderia prestar às pessoas
que mais necessitam. Precisamos rezar, confiar em Deus, mais precisamos
também agir. Por mais que seja uma ação humanamente irrisória, mas esta
pequena ação de milhões de pequenos Davis serão potenciadas por Deus,
que pela sua graça dará vitória ao seu povo.
Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/
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