DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PROMOVIDO
PELO PARTIDO POPULAR EUROPEU
Ilustres Parlamentares
Senhoras e Senhores!
Sinto-me
feliz em receber-vos por ocasião dos Dias de Estudo sobre a Europa
organizados pelo vosso grupo parlamentar. Os Pontífices Romanos
prestaram sempre uma especial atenção a este Continente. Por
conseguinte, a audiência de hoje é oportuna e insere-se numa longa série
de encontros entre os meus predecessores e os movimentos políticos de
inspiração cristã. Agradeço ao Deputado Pöttering as palavras que me
dirigiu em vosso nome e manifesto-lhe, assim como a todos vós, as minhas
cordiais saudações.
Actualmente
a Europa deve enfrentar questões complexas de grande importância, como o
crescimento e o desenvolvimento da integração europeia, a definição
cada vez mais completa da política de proximidade no seio da União e o
debate do seu modelo social. Para alcançar estes objectivos, será
importante inspirar-se, com fidelidade criativa, na herança cristã que
contribuiu de modo particular para forjar a identidade deste continente.
Valorizando as suas raízes cristãs, a Europa será capaz de oferecer uma
orientação segura às opções dos seus cidadãos e das suas populações,
fortalecendo a sua consciência de pertencer a uma civilização comum, e
alimentará o compromisso de todos para enfrentar os desafios do presente
para o bem e para um futuro melhor.
Portanto,
aprecio o reconhecimento, da parte do vosso grupo, da herança cristã da
Europa que oferece orientações éticas preciosas para a busca de um
modelo social que satisfaça adequadamente as exigências de uma economia
já globalizada e responda às mudanças demográficas, garantindo
crescimento e progresso, tutela da família, iguais oportunidades na
instrução dos jovens e solicitude pelos pobres.
Além
disso, o vosso apoio à herança cristã pode contribuir de modo
significativo para derrubar aquela cultura tão difundida na Europa que limita na esfera privada e subjectiva a manifestação das próprias convicções religiosas.
As políticas elaboradas partindo desta base não só implicam o repúdio
do papel público do cristianismo, mas, mais em geral, excluem o
compromisso com a tradição religiosa da Europa, que é tão clara apesar
das suas variedades confessionais, ameaçando desta forma a própria
democracia, cujo vigor depende dos valores que promove (cf. Evangelium vitae,
70). A partir do momento que esta tradição, precisamente no que podemos
definir a sua união polifónica, transmite valores que são fundamentais
para o bem da sociedade, a União Europeia só pode receber um
enriquecimento do compromisso com ela. Seria um sinal de imaturidade, ou
até de debilidade, optar por se opor a ela ou por ignorá-la, em vez de
dialogar com ela. Neste contexto, é necessário reconhecer que uma certa
intransigência secular demonstra ser inimiga da tolerância e de uma
visão sadia da sociedade. Portanto, sinto-me feliz pelo facto de o
tratado constitucional da União Europeia prever uma relação estruturada e
permanente com as comunidades religiosas, reconhecendo-lhes a sua
identidade e o seu contributo específico.
Sobretudo,
tenho esperança de que a realização eficaz e correcta deste
relacionamento comece agora, com a cooperação de todos os movimentos
políticos independentemente das suas orientações. É preciso não
esquecer que, quando as Igrejas ou comunidades eclesiais intervêm no
debate público, manifestando dúvidas ou recordando certos princípios,
com isso constitui uma forma de intolerância ou uma interferência porque
tais intervenções são unicamente destinadas a iluminar as consciências,
permitindo que elas se movam livre e responsavelmente segundo as
exigências autênticas de justiça, mesmo quando isso pudesse entrar em
conflito com situações de poder e com interesses pessoais.
No
que se refere à Igreja Católica, o interesse principal das suas
intervenções no campo público é a tutela e a promoção da dignidade da
pessoa e, por conseguinte, ela chama conscientemente a uma particular
atenção aos princípios que não são negociáveis. Entre eles, hoje emergem
os seguintes:
Tutela da vida em todas as suas fases, desde o primeiro momento da concepção até à morte natural;
reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre um homem e uma mulher baseada no matrimónio, e a sua defesa das tentativas de a tornar juridicamente equivalente a formas de uniões que, na realidade, a danificam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter particular e o seu papel social insubstituível;
tutela do direito dos pais de educar os próprios filhos.
reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre um homem e uma mulher baseada no matrimónio, e a sua defesa das tentativas de a tornar juridicamente equivalente a formas de uniões que, na realidade, a danificam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter particular e o seu papel social insubstituível;
tutela do direito dos pais de educar os próprios filhos.
Estes
princípios não são verdades de fé mesmo se recebem ulterior luz e
confirmação da fé. Eles estão inscritos na natureza humana e, portanto,
são comuns a toda a humanidade. A ação da Igreja de os promover
não assume, por conseguinte, um carácter confessional, mas dirige-se a
todas as pessoas, prescindindo da sua filiação religiosa. Ao contrário,
esta acção é tanto mais necessária quanto mais estes princípios forem
negados ou mal compreendidos porque isto constitui uma ofensa contra a
verdade da pessoa humana, uma grave ferida infligida à própria justiça.
Queridos
amigos, ao exortar-vos a ser testemunhas críveis e coerentes destas
verdades fundamentais através da vossa actividade política e mais
basilarmente através do vosso compromisso de levar uma vida autêntica e
coerente, invoco sobre vós e sobre a vossa obra a permanente assistência
de Deus, em cujo nome concedo a minha Bênção Apostólica a vós e a
quantos vos acompanham.
Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/
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