Dando continuidade à postagem de textos sobre a história do movimento carismático, apresentamos abaixo, conforme prometido, o texto sobre o Avivamento da Rua Azusa, um acontecimento que é tido como o nascedouro do movimento pentecostal. Tal acontecimento nos leva a refletir sobre a ação multiforme do Espírito Santo na vida dos cristãos, pois esta experiência vivenciada por evangélicos acontece praticamente de modo simultâneo à oração feita pelo Papa Leão XIII, consagrando o século XX ao Espírito Santo.
No dia 31 de dezembro de 1900, Parham e seus alunos realizaram um culto de vigília em seu instituto bíblico para aguardar a chegada do novo século. Uma evangelista de 30 anos, Agnes Ozman, pediu que lhe impusessem as mãos para que ela recebesse o Espírito Santo a fim de ser missionária no exterior. Ela falou em línguas, fenômeno esse que se repetiu nos dias seguintes com metade das pessoas da escola, inclusive Parham. Nos anos seguintes, Parham deu continuidade ao seu trabalho em várias partes dos Estados Unidos e no Canadá, atraindo milhares de seguidores.
Em 1905, Charles Parham mudou-se para o Texas e iniciou uma escola bíblica em Houston. Um dos estudantes atraídos por essa escola foi um ex-garçom negro e pregador holiness, William Joseph Seymour (1870-1922). Era o período da discriminação racial no sul dos Estados Unidos e Parham era simpatizante desse sistema. Seymour assistia às aulas sentado em uma cadeira no corredor ao lado da sala. Algumas semanas mais tarde, ele recebeu o convite para visitar um pequeno grupo batista em Los Angeles. Esse grupo de afro-americanos, pastoreado por uma mulher, Julia Hutchins, havia sido expulso de sua igreja por esposar doutrinas holiness. Seymour, então com trinta e cinco anos, era filho de escravos, tinha pouca cultura, limitados dotes de oratória e era cego de um olho. Escolheu o texto de Atos 2.4 para o seu primeiro sermão em Los Angeles, embora ele mesmo nunca tivesse falado em línguas. A pastora não gostou do seu ensino, mas ele, acompanhado por boa parte do grupo, passou a fazer as reuniões na casa onde estava hospedado. Quando esta se tornou pequena, foram para outra um pouco maior, na Rua Bonnie Brae, onde o avivamento começou no dia 9 de abril de 1906.
Com o passar dos dias, várias pessoas começaram a falar em línguas, primeiro negros, depois brancos, e finalmente o próprio Seymour teve essa tão-sonhada experiência (12 de abril). Nesse mesmo dia, a varanda da frente dessa residência desabou devido ao peso da multidão. Com isso, os líderes alugaram um rústico edifício de madeira na Rua Azusa, perto do centro de Los Angeles. Esse prédio havia abrigado uma igreja metodista negra e posteriormente tinha sido usado como cortiço e estábulo. Imediatamente as reuniões atraíram a atenção da imprensa. O principal jornal da cidade mandou um repórter ao local e este escreveu ridicularizando os fenômenos presenciados. Esse artigo, intitulado “Estranha babel de línguas”, foi publicado no mesmo dia em que um terremoto seguido de um incêndio destruiu a cidade de San Francisco (18 de abril de 1906), no norte na Califórnia. O artigo funcionou como propaganda gratuita e logo em seguida ocorreu o Avivamento da Rua Azusa.
As reuniões eram eletrizantes e barulhentas. Começavam às 10 horas da manhã e prosseguiam por pelo menos doze horas, muitas vezes terminando às 2 ou 3 da madrugada seguinte. Não havia hinários, liturgia ou ordem de culto. Os homens gritavam e saltavam através do salão; as mulheres dançavam e cantavam. Algumas pessoas entravam em transe e caiam prostradas. Até setembro, 13.000 pessoas passaram pelo local e ouviram a nova mensagem pentecostal. Um bom número de pastores respeitáveis foi investigar o que estava ocorrendo e muitos deles acabaram se rendendo ao que presenciaram.
Uma característica marcante dessas primeiras reuniões foi o seu caráter multi-racial, com a participação de negros, brancos, hispanos, asiáticos e imigrantes europeus. A liderança era dividida entre negros e brancos, homens e mulheres. Um artigo do jornal A Fé Apostólica, fundado por Seymour, dizia no número de novembro de 1906: “Nenhum instrumento que Deus possa usar é rejeitado por motivo de cor, vestuário ou falta de cultura”. Outro artigo informava que em um culto de comunhão que durou toda a noite havia pessoas de mais de vinte nacionalidades. Uma frase comum na época dizia que “a linha divisória da cor havia sido lavada pelo sangue”. Diante da longa e terrível história de racismo e segregação nos Estados Unidos, esse fato só podia deixar encantados os participantes e observadores do avivamento, que viam nisso mais uma prova de que o movimento vinha de Deus.
Todavia, desde o início também houve uma série de problemas: médiuns espíritas tentavam realizar sessões durante os cultos; enquanto muitas pessoas sentiam a presença de Deus, outras ficavam no fundo do salão discutindo e condenando; havia muitas críticas de jornais e de líderes eclesiásticos. Houve também algumas crises internas: choques de personalidade, fanatismo, divergências doutrinárias e separação racial. Com o passar do tempo, Seymour e outros líderes negros acabaram assumindo o controle da missão, excluindo os brancos e os hispanos. O próprio Parham visitou o local em outubro de 1906 e ficou chocado com certas manifestações que presenciou.
Após cerca de três anos de reuniões diárias de alta intensidade, o avivamento entrou em declínio. Depois da morte de Seymour em 1922 e de sua esposa Jennie em 1936, a missão fechou as portas e o edifício foi demolido. Todavia, um novo capítulo na história da igreja havia começado. Há alguns anos foi colocada na praça anexa a esse local histórico uma placa com os seguintes dizeres:
Missão da Rua Azusa – Esta placa comemora o local da Missão da Rua Azusa, que estava localizada na Rua Azusa 312. Formalmente conhecida como Missão da Fé Apostólica, ela serviu como nascedouro do Movimento Pentecostal internacional de 1906a 1931. O pastor William J. Seymour superintendeu o “Avivamento da Rua Azusa”. Ele pregou uma mensagem de salvação, santidade e poder, recebeu visitantes de todo o mundo, transformou a congregação em um centro multicultural de adoração e comissionou pastores, evangelistas e missionários para levaram ao mundo a mensagem do Pentecoste (Atos 2.1-41). Hoje os membros da Movimento Pentecostal/Carismático totalizam meio bilhão ao redor do mundo. Fevereiro de 1999 – Comissão Memorial da Rua Azusa.
Fonte: www.portalcarismático.com.br
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